Adolescer

Que processo é esse?

Será o que os pais entendem sobre este processo, tão diversificado e complexo, que é adolescer?
A adolescência talvez seja a fase do desenvolvimento humano mais difícil, intensa e desorganizadora para o sujeito que está saindo da fase da latência e começando a entrar na fase genital, uma fase que requer muita energia devido a enxurrada hormonal que está recebendo o corpo do jovem adolescente, e isso não é nada fácil.
Nesta fase, o indivíduo, ou a pessoa, ou o sujeito, ficará exposto a muitas circunstâncias, para as quais ainda não tem preparo, e não saberá lidar com os excessos que as vezes podem se tornar traumáticos, mas, mesmo assim, não existe uma saída, precisam seguir o caminho. O que eles (adolescentes) não sabem é que não precisam passar por isso sozinhos, que podem pedir ajuda para ir se construindo subjetivamente, no entanto, o fazem só, e muitas vezes de forma onipotente e arrogante. É muito importante que os pais tenham noção que esse caminho não é fácil de ser percorrido. As vezes penso que os adultos se esquecem que já experienciaram essa fase, portanto, muitas vezes a negligenciam, não percebendo o sofrimento que é imposto ao adolescente de forma, vamos dizer assim, natural, porém que leva um tempo para ser assimilada e compreendida. Muitas coisas acontecem nesta fase: a mudança da tonalidade de voz, a mudança na pele, a mudança no corpo, do cheiro, enfim, são muitas mudanças e, junto com as mudanças físicas, vem o turbilhão emocional com novas sensações que precisam ser reconhecidas e não negadas, muitas vezes eles(as) não sabem o que fazer com isso tudo. Esse momento talvez seja aquele em que os pais deveriam estar mais por perto, para ajuda-los a passar por essas dificuldades de uma forma menos assustadora. Porém, o que acontece é exatamente o contrário. Nessa fase os adolescentes costumam ficar irritadiços, nervosos, alterados, sem saber ao certo o que está acontecendo com o seu mundo infantil, lugar seguro e desprovido de defesas, sim, lembrando que eles estão saindo de uma fase de calmaria, onde as coisas andavam de boa, e encontram o turbilhão. Ele vivia no país das maravilhas, até que os novos desafios o exigirão, através do simples fato de aqui estar e pertencer a um mundo de expectativas, de demandas e muitas vezes de desafetos, a tomar o seu lugar, mas, que lugar é esse?
A turbulência acontece em função de que daqui para a frente ele terá que pensar o mundo de uma forma diferente, encontrar seu sentimento de pertencimento em um mundo onde terá que tomar decisões, fazer escolhas, terá que lidar com a sexualidade e tudo que ela faz despertar no corpo. Tudo fica estranho, tudo é novo, mesmo que já tenha ouvido falar, agora está experimentando em seu corpo sensações que até então não eram sentidas. Isso dá muito medo, pode acreditar. É um momento que se desorganiza para voltar a se organizar. E é nesse momento que o adolescente se distancia da família. Ele tenta descobrir por si só esse novo mundo. Ele faz uma verdadeira imersão nessa nova fase, buscando referências, buscando seus pares. Daí as salas dos jogos virtuais ser tão potente e importante para eles de uma forma geral. Cada um vai buscar em um lugar algo que possa lhes dizer o que está acontecendo. Dificilmente compartilham com seus pais esses sentimentos de desamparo. Tentam dizer que está tudo bem, mas estão mais perdidos do que qualquer outra coisa. Os valores até então eram aqueles passados pela cultura familiar, e, de repente, vêm os questionamentos e tudo começa a despencar, vai de encontro a tudo que possa parecer certeza, ou verdades absolutas, mesmo que sem perceber eles criem muitas “verdades” contraditórias, mas que só serão percebidas bem depois. Esse caminho é de fato perturbador, existem pessoas que ficam fixadas nesta fase por muitos anos, não conseguem evoluir para a fase adulta, se mascaram, mas o infantil não sai deles. Não são todos, mas uma grande parte, e a culpa disso é dos pais, por um sentimento de culpa (talvez aqui pela ausência de cuidados impetrada pela jornada de trabalho, ocasionando falta de tempo e paciência com seus filhos, hoje também com as questões das redes sociais que tomam bastante tempo de alguns deles, com o ter que cuidar do físico entre outras coisas mais), acabam não dando a atenção necessária, deixando de conversar, questionando e explicando as situações; muitos ficam amedrontados sem saber como agir, e se distanciam, muitas vezes, são movidos outrora pelos seus próprios fantasmas, que provavelmente não foram resolvidos lá na sua adolescência, e retornam em função das dificuldades que os filhos estejam passando, não favorecendo o adolescente que luta para se libertar logo dessa confusão interna em que vivem.
Não é um processo tranquilo esse, em jogo encontram-se muitas coisas que precisariam ser pensadas junto com a família. Mas o novo conceito de família atrapalha muito nessa construção. A partir do momento em que entenderam que precisavam dar privacidade para os membros, a família se desfez. A casa passou a ser um lugar onde cada um tem o seu espaço (um quarto de hotel?), que muitas vezes não é compartilhado e seus membros se perderam. Não fazem nenhuma refeição juntos, cada um por si e ninguém mais pelo outro. Esse distanciamento foi acontecendo de forma muito violenta. Sim, violenta, porque gera no outro, que não tem condição de seguir sozinho, a sensação de desamparo que vai o obrigar a buscar muitas formas de compensar este estar só, que muitas vezes deve ser desesperador, e aí encontram nas redes sociais os perversos, mal resolvidos e doentes que vão incitar e imputar aos adolescentes uma série de questões que pela falta de condições psíquicas e dúvidas, vão acabar embarcando e se perdendo nesse mundo violento e cruel, criando um mundo totalmente paralelo daquele que os pais conhecem e pensam que seus filhos vêm seguindo.
Por isso sugerimos aos pais que não abram mão de seus filhos, que possam olhar por eles, chama-los para o convívio, queiram saber o que andam fazendo, exijam suas presenças nas refeições, vejam filmes juntos, discutam questões primordiais, mesmo que eles, inicialmente, achem chatas, não importa, seja o que for, mas não abram mão dos seus filhos, para evitar o mal maior que é se perderem para esses grupos violentos, perversos e criminosos que existem na internet, sempre lembrando que a internet é terra de ninguém, sem lei e nem piedade.

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