O que é LUGAR DE FALA ?

Este livro não fala de psicanálise, mas fala sobre subjetividades construídas através da opressão e o horror da colonização e da escravidão. Ele nos informa da luta das minorias em busca de um lugar. Principalmente de uma minoria, que de forma nenhuma é minoria em nosso país, que é a questão dos negros, que aqui chegaram através da diáspora africana, para serem escravizados, maltratados pelos capitães do Mato e seus “senhores”.
A autora nos explica a trajetória dessa luta nos convocando a conhecer algumas intelectuais negras que nem de longe, fora desse contexto, pensamos conhecer. Tenta, através de sua narrativa, desconstruir, paradigmas estabelecidos por uma cultura “branca” que até hoje re-nega o lugar do negro e a sua cultura colocando -os em um lugar de invisibilidade e de vulnerabilidade. Chama-nos atenção para a questão do feminino negro que desde sempre foi objeto de uso – sexual e doméstico. E que até hoje luta por um reconhecimento, não pelo corpo que traz e nem sua serventia, mas pelo humano que é. O livro nos convoca a pensar e a nos colocar no lugar do outro e nos evoca a escutar este outro legitimando-o. A ele, a sua voz autorizando sua fala.
Este livro nos fala sobre mulheres negras, ativistas, feministas, articuladas. Ele faz parte de uma coleção, organizada pela autora Djamila Ribeiro, que abrigará as mais diversas formas de expressão “cultural de mulheres negras, indígenas e homens negros que trazem em comum a insurgência desses grupos subalternizados frente aos modos de subjetivação consagrados pelo racismo, sadismo e o desafio de construção de novos imaginários restituidores da plena humanidade para todos e todas “ (Sueli Carneiro).
Djamila começa seu livro com uma citação da Lélia Gonzáles, uma das intelectuais de que fala no livro, que vou aqui reproduzir pelo efeito que em mim causou.
“ E o risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicações. Exatamente porque temos sidos falados, infantilizados (infante é aquele que não tem fala própria, é a criança que se fala na terceira pessoa, porque falada pelos adultos) que neste trabalho assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa”.
A leitura deste livro provocou em mim varias sensações que algumas vezes identifiquei como desconfortável por perceber o quanto a cultura do racismo é encrostado em nós “brancos”. Brancos ? Fico na dúvida se realmente sou, mas com certeza esta leitura me fez um pouco ou muito mais humana. Vale muito a pena.

O que é LUGAR DE FALA ?
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